O transtorno afetivo bipolar é um dos tipos de transtornos de humor, caracterizado por episódios maníacos e depressivos.
É importante aqui conhecermos também as definições de mania e depressão. Mania é um estado do humor caracterizado por elevação do humor, otimismo acentuado, aumento da energia e sentido exagerado de autoestima. Neste estado a pessoa fica eufórica ao extremo, é uma alegria contagiante e excessiva.
A depressão é o oposto, o outro extremo da mania, e se manifesta por tristeza, desânimo, diminuição da autoestima, impotência e maior risco de suicídio. A pessoa depressiva não tem vontade de fazer nada, geralmente passa deitada, sem ânimo.
Transtorno Afetivo Bipolar tipo I
É um conjunto completo de sintomas de mania, durante o curso da doença, acompanhado de um episódio de depressão.
O transtorno afetivo bipolar I pode ocorrer de três formas:
-Transtorno afetivo bipolar I, episódio maníaco único: o paciente deve estar passando por seu primeiro episódio maníaco.
-Transtorno afetivo bipolar I, recorrente: encerra a fase maníaca e se inicia a fase depressiva, com pequeno espaço de intervalo entre ambas as fases, cerca de dois meses.
– Episódios mistos: os estados depressivos e maníacos ocorrem com rápida alternância ou concomitantemente.
Passamos neste momento a estudar as alterações de algumas funções psíquicas deste transtorno, baseado nas descrições de Kaplan (1997).
Episódio depressivo
Afetividade: depressão, retraição social, atividade diminuída.
Muitas vezes a pessoa deprimida nega a depressão e não se mostra abalada por ela.
Quase que sempre são levadas ao tratamento por familiares e amigos; não vão por conta própria.
Linguagem: redução na velocidade e intensidade da fala, dando respostas monossilábicas.
Às vezes é necessário esperar alguns minutos para obter a resposta desses pacientes quando questionados.
Sensopercepção: na depressão psicótica podem ocorrer alucinações, que são mais raras; podem ter características catatônicas.
Pensamento: também na depressão psicótica podem apresentar delírios cujos conteúdos incluem culpas, pecado, inutilidade, pobreza, fracasso, perseguição ou também grandeza (como ser o Messias).
Há uma forte presença de sentimentos de culpa e inutilidade por estar doente.
– Orientação: a orientação é mantida, mas às vezes o paciente não tem ânimo para responder.
– Memória: pode haver esquecimento e comprometimento da concentração.
– Conduta: os pacientes depressivos apresentam maiores riscos de suicídio. Em caso de depressão psicótica podem também atentar contra a vida de alguém que faça parte de seu sistema delirante.
– Consciência: pode ocorrer estupor depressivo.
Episódio maníaco
Afetividade: são pacientes eufóricos, mas também podem ser irritáveis. Podem ter baixa tolerância à frustração, despertando sentimentos de raiva e hostilidade. Pode ser emocionalmente instáveis, o que facilita à chegada à fase depressiva.
Linguagem: falam demais e muito rápido; utilizam muitos jogos, rimas, trocadilhos e jogo de palavras. Quanto maior a intensidade da mania menor a capacidade de concentração, levando à fuga de ideias, salada de palavras e neologismos.
Os pacientes interferem em assuntos que não lhe dizem respeito, pelo fato de acreditarem saber de tudo.
– Sensopercepção: podem apresentar algumas alucinações bizarras.
– Pensamento: a presença de delírios de grandeza ocorre em 75% dos casos. Os delírios sempre envolvem poder, riqueza e habilidades.
– Orientação e memória: permanecem intactos, apesar da euforia extrema não permitir que eles respondam corretamente.
– Conduta: podem ser agressivos e ameaçadores. Suicídio e homicídio podem ocorrer, mas parece não serem comuns.
As ameaças, geralmente, são às pessoas importantes como, por exemplo, o governador do Estado.
O transtorno afetivo bipolar I frequentemente se inicia pela fase da mania e é recorrente. A maioria dos pacientes experimenta tanto episódios
maníacos quanto depressivos. Apenas 20% apresentam somente episódios maníacos.
O episódio maníaco tem início rápido, podendo evoluir (piorar) ao longo de algumas semanas. Pode durar cerca de três meses sem tratamento,
cuja finalidade é diminuir o tempo dos episódios.
Os pacientes maníacos apresentam humor elevado, expansivo ou irritável. Geralmente exageram no consumo de bebidas alcoólicas.
O seu modo de vestir também não passa despercebido com bijuterias e cores berrantes em combinações incomuns.
Não se prendem a pequenos detalhes, nem mesmo se interessam por idéias religiosas, políticas, financeiras, sexuais.
O prognóstico é favorável; é possível conviver em sociedade, desde que estejam em tratamento.
Farmacoterapia
O medicamento mais utilizado é o carbonato de lítio (Carbolim, Carbolitium) que é um estabilizador do humor.
Outras drogas também podem ser utilizadas para tratar a mania como os anticonvulsivantes: carbamazepina (Tegretol), ácido valpróico (Depakene) e clonazepam (Klonopin).
Transtorno Afetivo Bipolar II
São caracterizados pela presença, durante o curso do transtorno, de episódios depressivos maiores e hipomaníacos.
A queixa principal desses pacientes é humor deprimido e perda de interesse. Colocam-se como pessoas inúteis, que não tem capacidade nem para chorar.
Cerca de dois terços dos deprimidos pensam em se matar e 15% deles comete o suicídio. Muitas vezes não conscientizam a doença e não se assumem enquanto doentes.
Queixam-se de diminuição de energia, dificuldades para dormirem (insônia), perda do apetite e redução de peso, sendo que todas as situações inversas às colocadas também podem ocorrer. A ansiedade é um sintoma comum na depressão.
Isto tudo ocorre combinado ao episódio hipomaníaco.
O transtorno afetivo bipolar II é de início mais precoce do que o I. O paciente do tipo II tem maior risco para tentar e cometer o suicídio do que o tipo I, visto que a depressão é o sintoma mais acentuado na II.
O prognóstico do transtorno afetivo bipolar II começou a ser estudado há pouco tempo, mas as pesquisas existentes revelam que é uma doença crônica, devendo ser tratada em longo prazo.
Farmacoterapia
Neste caso são mais utilizados os antidepressivos: imipramina (Tofranil), amitriptilina (Elavil), fluoxetina (Prozac), sertralina (Zoloft), entre outros.
Porém devem ser associadas a outras drogas como anticonvulsivantes, por exemplo, em função de que já foi comprovada a ineficiência do tratamento exclusivo com antidepressivos.
A principal diferença entre os dois tipos de transtornos afetivos bipolares é: o tipo I é maníaco com traços depressivos, e o tipo II é depressivo com traços hipomaníacos.
Gabriele
É possível uma pessoa ter sido Bipolar Tipo 1 até um certo período da vida e depois de uma fase de grandes desgostos ela passar a se comportar mais como Bipolar Tipo 2 na fase madura?
Lê
Acredito que sim, mas vc deveria consultar um psiquiatra para ter certeza. Obrigado por acessar!!