As Unhas (e medalhas) de um Nadador Brasileiro Campeão Mundial

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“Marcel, eu tenho que ir.”

Felipe abandonou o treino, saiu da piscina e foi tomar banho. Sua cabeça não parou. Os pensamentos estavam acelerados. A mente inquieta. A desatenção prejudicou as braçadas. A irritabilidade interrompeu seu ritmo respiratório. Como equilibrar o treino intenso de um atleta profissional, em preparação para o Campeonato Brasileiro de Natação, com sintomas de hipomania?

Marcel é treinador de Felipe e sabia do diagnóstico dele. Marcel sabia que o tratamento para o transtorno bipolar às vezes leva meses para ser ajustado.

A história da natação de Felipe Ribeiro (@ribeiro_lipers) começa ainda criança, nas piscinas, na paixão pelo esporte, no amor pela vida. Ser atleta não é gostar. É sobre amar, sobre ter paixão.

Um menino intenso e extrovertido que é surpreendido por uma mudança abrupta e debilitante de humor. Aos 15 anos, Felipe viveu seu primeiro episódio depressivo. Como muitos pacientes bipolares, o primeiro diagnóstico foi depressão unipolar. Felipe recebeu antidepressivos. A resposta foi pequena, resultando em uma mudança de medicamentos. Essa mudança também resultou com pouca resposta.

No meio do treino, alguns episódios de humor com dias de irritabilidade, inquietação, redução de horas de sono e pensamento acelerado fizeram Felipe pensar:

 

“Deve ser ansiedade em relação à próxima competição.”

 

Não era. Foram episódios de hipomania. Os médicos não conseguiram distinguir naquela época o que era hipomania e o que era ansiedade. Os antidepressivos foram continuados. E novamente eles falharam. A arritmia não pode ser tratada com medicamentos para hipertensão.

No final de 2022, Felipe fala sobre um sentimento diferente:

“Eu experimentei algo estranho. Fiquei irritado, fiquei inquieto, dormi pouco. Mas também fiquei triste, sem prazer em nada. Foi uma mistura de coisas. Eu não entendia se estava para cima ou para baixo. Foi muito ruim.

Felipe estava vivenciando episódios mistos, ou seja, polarizações de humor em que o paciente vivencia simultaneamente sintomas depressivos e maníacos.

O desempenho nos treinos caiu. A motivação de Felipe desapareceu.

Por que nadar? Para quem eu nado? Por que eu competi? Foram alguns dos pensamentos que passaram pela cabeça de Felipe.

Em fevereiro de 2023, 8 anos após seu primeiro episódio depressivo, Felipe foi diagnosticado com transtorno bipolar. Muitos pacientes são diagnosticados erroneamente como “depressão com ansiedade” durante anos antes de serem diagnosticados com transtorno bipolar.

Felipe foi diagnosticado erroneamente há 8 anos. Algumas literaturas médicas dizem que a média é de 12 anos.

Iniciado o tratamento adequado, Felipe retomou os treinos. Em maio de 2023, no Campeonato Brasileiro de Natação, se classificou para o Mundial do Japão e para o Pan-Americano do Chile.

Entre a Ásia e a América Latina, Felipe estava passeando com dois amigos que pintavam as unhas.

 

“Você pode pintar a minha também?”

O Transtorno Bipolar tirou noites de sono de Felipe. Às vezes, pode ter roubado a esperança e a alegria. Mas isso não acabou com seu lado extrovertido, sua fome pelo mundo. Por que não colorir as unhas?

Falei com ele em dezembro de 2023:

“Não entendo, Felipe. Suas unhas ficam rosas quando você está maníaco e pretas quando você está deprimido?

 

“Não, Thiago. Colorir minhas unhas fala da minha vontade de viver. Do meu lado extrovertido. Das cores do mundo.”

 

Pergunto se, com o tratamento, a estabilidade emocional obtida contribuiu para a melhora do desempenho nas piscinas:

 

“Absolutamente. Estar estável ajuda na minha concentração, no meu foco, na minha disciplina e nos meus resultados.”

Em tratamento para Transtorno Bipolar desde fevereiro de 2023, Felipe retomou os treinos, melhorou o desempenho, participou de campeonatos e recuperou as cores da vida.

Rosa e preto?

Não somente. Parece que ele também gosta de ouro.

Felipe foi medalhista de ouro no revezamento 4x100m livre, nos Jogos Pan-Americanos, em Santiago, em outubro de 2023.

 

Thiago Genaro
Thiago Lopes Genaro é psiquiatra em São Paulo, Brasil. Faz parte do corpo clínico da Conexa Saúde, Hapvida,
MentalMe, Hospital Nipo-Brasileiro e Hospital Israelita Albert Einstein atendimento@talkpsiquiatria.com.br

Artigo original: https://ibpf.org/the-nails-and-medals-of-a-world-champion-brazilian-swimmer/

Tradução: Lê

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